SUSTOS WAPICHANA: BANANA

Texto publicado em 5 de Setembro, 2018

Olá, eu sou Gustavo,
artista indígena,
fruto da etnia Wapichana,
de Roraima, e sou 
o autor desta página.


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“Minha mãe contou que quando era criança, lá no início dos anos 60, ela cresceu entre os igarapés, pé no chão e bananeiras. Segunda ela, tinha muita banana mesmo. Ela conta que saiu da aldeia de Canauanim em 1968 e a vida se portou como um rio: escoou ela para Boa Vista, Manaus e foi a levando até ao Sul, em Curitiba. Morou em muitas casas, trabalhou como doméstica, fez da costura a ferramenta de sobrevivência, se dedicou aos estudos e foi adotada por uma família do sul. Demorou 33 anos para juntar forças, tempo e recursos para re-visitar sua mãe e familiares na aldeia. Na ocasião, levou eu e meu irmão para apresentar os lugares que cresceu e nos introduzir aos nossos familiares. Lembro que ao identificar as bananeiras da aldeia, já coletadas e apresentadas no chão, ela logo se amontoou aos cachos, como se fosse sua casa, e pediu uma foto. Isso foi em 2001 e a cena me marcou. Passados outros 16 anos uma nova visita, em 2017, um susto:

- Onde foram parar as bananas? Eu fiquei indignada. Tive que comprar banana no mercado pra levar pra aldeia.

Conta-se que uma peste envenenou o solo e não tem muita banana crescendo por lá não. Esse foi o primeiro susto que minha mãe relatou da sua última visita a sua casa.”

"Onde foram parar as bananas? Eu fiquei indignada. Tive que comprar banana no mercado pra levar pra aldeia."

Lucilene em meio as bananas, Canauanim, 2001.