CORPO-PRESENTE e CORPO-MEMÓRIA
WAPICHANA

Texto publicado em 3 de Dezembro, 2018

Olá, eu sou Gustavo,
artista indígena,
fruto da etnia Wapichana,
de Roraima, e sou 
o autor desta página.


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Nota introdutória: Trata-se de uma reflexão sobre identidade indígena contemporânea.

Nome do projeto: ​Corpo-presente e Corpo-Memória: Wapichana no sul.

Texto de apresentação: Um corpo colado ao chão descola-se na paisagem. A memória e corporalidade indígena estão em movimento e transformação. Corpo-presente propõe uma investigação sobre os multi-espaços que este corpo-memória carrega. Partindo de um ensaio e auto-investigação do corpo indígena Wapichana que transporta-se de Roraima, da aldeia Canauanim, e retorna à sua terra de origem apenas 33 anos depois, o artista literaliza o descolamento corporal, fixado à terra, em diferentes paisagens. O artista exercita a ideia de SER TERRA.

O corpo é memória: ​Corpo-Memória evoca a reflexão aos corpos indígenas contemporâneos que estão em constante movimento. Parto do lugar de um corpo-indígena que entrou numa pororoca, lá em Roraima, da aldeia Canauanim, dum corpo representante do povo Wapichana, e continua o seu movimento fluvial no sul, em Curitiba. Falo sobre os corpos memória que, no exercício da oralidade e escuta, tratando-se dos povos de Roraima, propagam os mistérios das raízes da alta montanha plana e do silêncio. O corpo memória nasce na aldeia e vai de encontro à cidade e é nesta mudança, deslocamento, adaptação, enfrentamento, sobrevivência que é importante se atentar de onde vem as narrativas.

Corpo-deslocamento: Apresento o corpo deslocando-se em diferentes paisagens. Minha origem mais próxima é a aldeia de Canauanim, Malacacheta e Taba-lascada - onde nasceu o corpo-materno (1958). Antes, vem a memória de Maria Luiza, minha avó (1921) - finada e em deslocamento, no formato de semente de castanha. O corpo de minha bisavó, Blandina Cruz, move-se do norte ao sul (da Guiana ao Brasil) e fixa-se em uma nova aldeia onde seus filhos e netos nasceram. Um de seus filhos, Casimiro, foi professor e mestre da língua Wapichana, a sua neta, Lucilene é a que entrou na pororoca e veio parar no sul do Brasil, em Curitiba. Todos enfrentaram as relações e políticas com a cidade e também viveram nas aldeias.

Território seco e território molhado: O corpo que fala, inicia-se em paisagem seca, arenosa, com apenas um referencial de escuta tratando-se da sua raiz: o corpo materno. Muito se aprende sobre o Corpo-Memória com uma mãe indígena, mas foi o deslocamento ao norte pela primeira vez (2001), onde a escuta torna-se >> olhar << e pude conhecer Canauanim - que, segundo o professor e mestre historiador Wapichana Casimiro Cadete, vem `de kanau ‘canoa’ e wau ‘rio/igarapé’. Canauanim é o caminho da canoa. A paisagem seca entra em contato com a água. Encontrar novas fontes de escuta e narrativas destes familiares indígenas é o que continua contribuindo a estes processos de retomada de identidade. Re-encontrar este território fértil, em meio a rios, igarapés e água e o deslocamento de paisagem foi necessário para fazer a semente que já era broto, aflorar.

Caboco-Tombado -> Wapichana-Tombado: ​O corpo-presente encontra-se misturado à paisagem e, com o corpo deitado no chão, represento o ato louvável de tombar a imaterialidade da memória. Este corpo tombado, fixo à sua raiz, desloca-se a caminho do retorno à terra de origem. Rumo ao norte, Roraima, este corpo está em constante passagem e ao deitar realiza o papel de ponte entre lugares geograficamente distantes. Se num primeiro momento, a descida do rio foi na correnteza, com uma força metaforizada na pororoca e que ocorreu de maneira brusca / violenta, o retorno acontece numa caminhada lenta e passo a passo. O sangue indígena Wapichana guia o caminho e o tombamento do corpo representa um deslocamento antenado com esta origem Wapichana, assim como a valorização histórica deste povo materializada num corpo indígena contemporâneo que está produzindo artes visuais.

Gustavo

 

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Foto-performance publicada no projeto Núcleo de Artes Visuais do SESI Paraná, realizada no Centro Cultural Heitor Stockler de França, entre os meses de junho e setembro de 2018 
 

"O Corpo-Memória encontra-se misturado à paisagem e, ao deitar no chão, representa o ato louvável de tombar a imaterialidade indígena. "

"Corpo-Memória evoca a reflexão aos corpos indígenas contemporâneos que estão em constante movimento."